sábado, 23 de maio de 2015

Gostamos de ganhar

Gostamos de dizer que somos campeões! Mas o futebol não chega - e ainda bem! -, também queremos ganhar em todas as modalidades. No final desta época queremos dizer que ganhámos a dobradinha em quatro modalidades de pavilhão. Se acontecer, iremos dizê-lo e cantá-lo.

Mas o que fizemos por isso?

Ir a uma final a um sócio do SL Benfica custa 2€. Não compreendo que uma final da Liga de basquetebol não esteja com o pavilhão completamente cheio. Três horas antes de um jogo de futebol que vai ter mais de 60 000 benfiquistas. Ao jogo de futebol onde vai ser feita a festa toda a gente quer ir. Mas temos que nos perguntar: o que fizemos para ter estas vitórias?

Temos que as merecer.

O apoio e a obrigação de ganhar

Na última quarta-feira a equipa de basquetebol do SL Benfica "goleou" a equipa da AD Ovarense e qualificou-se para a final da Liga. Já na bancada os adeptos perderam claramente para os que vieram de Ovar.

Um jogo importantíssimo, que decidia a passagem aos jogos que decidem o título, não teve a presença das claques do SL Benfica... Apenas pouco mais que uma meia dúzia marcaram presença, portanto, pouco é de estranhar que durante quase todo o jogo tenha sido a claque vareira a fazer a festa.

A quantidade de público até era bastante razoável, no entanto, o apoio foi diminuto, tento em conta que jogávamos em casa. 

Também há a registar que existem adeptos que cantam mais fora do recinto desportivo que durante os jogos - já no futebol assim é -, quer seja antes ou depois dos jogos. 

Há aqueles que nem vão apoiar a equipa porque esta tem "obrigação de ganhar"! Vão ao último jogo para fazer a festa. Equipas com "obrigação de ganhar" já eu vi muitas a perder, nem sempre ganha a melhor equipa, há muitos factores que influenciam no desporto, a motivação é um deles. Sem o apoio dos adeptos baixamos a motivação da nossa equipa, ao contrário do adversário que aumenta a sua, nós adeptos estamos a aproximar o valor das equipas quando não apoiamos devidamente os nossos.

Na nossa vida pessoal e na nossa vida profissional também temos obrigação de fazer muitas coisas bem, o certo é que nem sempre conseguimos. Se calhar devíamos dar também um pouco mais pelas nossas equipas para ajudar ao seu sucesso. Temos tão bons exemplos daquilo que podemos fazer, um dos que mais me diz é final da CEV Challenge Cup, pudessem as nossas equipas ter sempre aquele apoio.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Lendas e Narrativas

Findo o campeonato e conquistado mais um título para o Glorioso, é tempo de preparar a final da Taça da Liga, que nos permitirá atingir isolado o maior número de títulos (reconhecidos pela FIFA) obtidos por um clube português.

Mas não sendo só de glórias nacionais feito este palmarés, interessa também analisar um mito que surgiu algures durante esta época — mesmo se oriundo dos adeptos do F.C. Porto, o principal rival do nosso Benfica.

Falo, portanto, da "narrativa" mais em voga entre as hostes portistas, e que simultaneamente minimiza as conquistas nacionais do Benfica e relativiza os fracassos internos do Porto, clamando por uma clara distinção entre os dois clubes a nível europeu. Naturalmente, esta interpretação ajuda à desculpabilização de tudo em torno do Apito Dourado, anos em que o Porto se consagrou na Europa.

Mas e depois? Depois da vitória nortista na Liga dos Campeões de 2003-04 seguiram-se, vamos lá a ver... dez temporadas, é isso. E o que aconteceu nessas dez temporadas que suporte a tal superioridade europeia tão propalada entre os adeptos azuis?

Para analisar a questão adianto a tabela abaixo, onde são apresentados os melhores resultados europeus do Benfica e Porto desde então: note-se que não discrimino entre acesso à Liga Europa por eliminação na fase de grupos da Liga dos Campeões ou por não qualificação para esta última (que, por sua vez, se pode dever a a eliminação na fase anterior ou não obtenção do lugar necessário no campeonato nacional).

Ano
S. L. Benfica
F. C. Porto
2004
EL 16: 1-3 CSKA
8: 2-4 Inter
2005
4: 0-2 Barcelona
G: 4º
2006
EL 4: 2-3 Espanyol
8: 2-3 Chelsea
2007
EL 8: 1-3 Getafe
8: 1-1 Schalke 04
2008
EL G: 5º
4: 2-3 M. United
2009
EL 4: 3-5 Liverpool
8: 2-6 Arsenal
2010
EL 2: 2-2 Braga
EL V: 1-0 Braga 
2011
4: 1-3 Chelsea
EL 16: 1-6 M. City
2012
EL F: 1-2 Chelsea
8: 1-2 Málaga
2013
EL F: 0-0 Sevilha
EL 4: 2-4 Sevilha
2014
G: 4º
4: 4-7 Bayern M.
Total
EL: G 16 8 4 4 2 F F 
CL: G 4 4
EL: 16 4 V
CL: G 8 8 8 8 8 4 4

Legenda
EL: Liga Europa (na ausência, refere-se à Liga dos Campeões)
16, 8, 4, 2: dezasseis-avos, oitavos, quartos ou semi-final
F: finalista vencido
V: vencedor
G: fase de grupos

Atentando aos dados acima, julgo que o Benfica tem falta de competitividade na Liga dos Campeões: assim a interpreto, sem atenuantes. E considero que a compensou com excelentes prestações na Liga Europa: uma semi-final e duas finais consecutivas.

Dito isto, infelizmente, um benfiquista racional tem de admitir que o Porto tem melhor prestação europeia que nós, graças à sua presença regular na fase eliminatória da Liga dos Campeões e uma Liga Europa conquistada. Mantenho esta opinião mesmo restringindo a análise ao período de regeneração benfiquista que muitos associam com Jorge Jesus, de 2009 para a frente.

No entanto, o mito não defende que o Porto é melhor que o Benfica na Europa: defende que é muito melhor, claramente de outro nível, e com prestações que mostram que pertence à elite europeia. Por isso, constatar que o Porto tem tido mais capacidade europeia que o Benfica não é suficiente para comprovar a narrativa que motivou este texto: é preciso que seja muito superior!

E essa superioridade não existe: o melhor que conseguiu foi realmente a conquista da Liga Europa, mas as duas finais do Benfica não mostram uma diferença de espécie, apenas de grau.

Ademais, a tese portista defende que a Liga Europa é, por si só, mostra de inferioridade competitiva, já que apenas ao panteão do futebol está reservado o Olímpo da Champions. Assim se desvalorizam as prestações honrosas do Benfica, com mais dois quartos de final e uma semi-final na segunda prova europeia.

E realmente sucede que o F. C. Porto assegurou sete passagens à fase eliminatória da Liga dos Campeões, contra apenas duas do S. L. Benfica... Mas, pasme-se: com tantas oportunidades de mostrar o seu carácter divino, ombreando com Real Madrid, Barcelona, Bayern Munique e outros que tais, o que conseguiram os dragões na última década? Exactamente o mesmo que as águias: duas presenças nos quartos de final.

Desportivamente (e futebol é desporto, não negócio), o Benfica transformou as suas más prestações em desempenhos desportivos na Liga Europa que só honram a sua história, conseguindo assim alcançar o sexto lugar no ranking da UEFA.

É razoável dizer que o Porto é realmente melhor que o Benfica na Europa? Talvez, mas não muito melhor: conquista mais acessos aos jogos "a doer", amealhando com isso mais receitas, mas a sua capacidade regular de picar o ponto nas eliminatórias só lhe garantiu o oitavo lugar do mesmo ranking... abaixo do Benfica!

Podemos por isso aceitar para a advocacia diabólica deste escriba, ou confiar cegamente nas estatísticas da UEFA: mas não temos de nos preocupar com histórias mitológicas de dragões e champinhões, que servem o mesmo propósito que Marx anunciava para a religião — ser utilizada pelos oligarcas da Torre das Antas para anestesiar o povo portista com a mais potente droga de todas: o orgulho.

Felizmente, os que lerem isto são maioritariamente crentes noutro deus: o dos golos reais, vitórias reais e campeonatos reais! Que os adeptos azuis se mantenham ignorantes e com uma soberba desmedida... enquanto comissões são desviadas, património alienado e conquistas reduzidas. A glória de ontem é para sempre, mas recordar não é viver: como os anos 60 encarnados, a cada dia que passa 1987 e 2004 pertencem mais e mais ao passado.