terça-feira, 30 de novembro de 2010

Prognóstico Beira-mar x Benfica

Vitória merecida do clube da águia, após uma partida equilibrada em termos de competitividade, com o Glorioso a tomar partido das suas mais-valias ao nível de unidades com maiores índices técnico-táticos, logrando assim levar de vencida a congénere aveirense.

O jogo que opôs a equipa da casa aos campeões nacionais em título pautou-se por uma regularidade exibicional pouco típica dos confrontos entre formações habitualmente separadas por um fosso pontual na tabela classificativa. O Beira-mar apostou numa maior concentração defensiva, mas sem abdicar de procurar ser feliz, nomeadamente através de lançamentos em profundidade para as costas da defensiva encarnada, buscando a pujança física e rapidez dos seus atacantes.

O Benfica, atravessando um momento menos bom da época, soube contrariar o factor casa e assumir as despesas do jogo, canalizando o seu fluxo ofensivo em iniciativas maioritariamente de cariz colectivo, procurando assim transmitir maior confiança às suas unidades. Efectivamente, beneficiou também do apoio constante dos milhares de adeptos que se deslocaram ao Estádio Municipal de Aveiro, fazendo fé na sua crença de ultrapassar as dificuldades do actual cenário encarnado — nomeadamente tendo em conta a época de grande regularidade do adversário, que esta época ainda não tinha sido batido no seu reduto.

A partida iniciou-se com algumas cautelas de parte a parte, fruto de uma natural retração da equipa da casa e também das difíceis condições colocadas aos atletas pelo frio que se fazia sentir ao nível do solo. Mas cedo se adivinhou o figurino da partida, com o Benfica a apostar na pressão alta e assim impedir as unidades adversárias de partir isoladas para o meio-campo encarnado. Sem Aimar, por lesão, coube a Javi Garcia e Carlos Martins funcionarem como pêndulo da equipa, soltando eficazmente a bola para os sectores avançados. Aí, Maxi Pereira revelou um entendimento crescente com Ruben Amorim, partindo para o ataque em triangulação e revezando-se nas tentativas de um para um.

No entanto, o Beira-mar revelou um grande discernimento defensivo, rechaçando as iniciativas individuais e colectivas encarnadas e tentando partir para o contra-ataque, sem cair na tentação de soltar logo a bola, mas pensando em construir apoio para os homens lá à frente. Só que a concentração defensiva dos elementos encarnados mais recuados permitiu-hes cair em cima das jogadas antes que estas ganhassem maior abrangência em termos de aberturas para as alas, canalizando assim as iniciativas aveirenses para o corredor central, onde um imperial Luisão se mostrou a um bom nível, ajudado pelo sempre disponível David Luiz.

Assim, o jogo parecia encaminhar-se para o intervalo com um empate natural a zero bolas no marcador, apesar do maior pendor ofensivo do Benfica, expresso na sua dominação em termos territoriais e de percentagem domínio de bola. Mas uma infantilidade do nigeriano Kanu (pelo menos o outro era nigeriano), que puxou pela camisola de Oscar Cardozo na zona de rigor aquando da marcação de um pontapé de canto, iria contrariar os esforços da equipa da casa. O controverso árbitro Bruno Paixão não claudicou na hora de assinalar o castigo máximo, permitindo ao melhor marcador da época transacta encarar o guarda-redes na marcação da grande penalidade.

Regressado de uma arreliadora lesão, o Tacuara teve assim a oportunidade de aumentar o seu pecúlio pessoal, retomando a busca da revalidação do seu título individual: efectivamente, logrou transformar esta oportunidade soberana com um remate lento após a estirada do guarda-redes na direcção contrária. As equipas recolheram ao balneário de seguida, com a marcha do marcador a conferir alguma justiça ao desenrolar do jogo jogado, mesmo se não traduzido em ocasiões claras de alvejar nenhuma das balizas.

Naturalmente galvanizado, o Benfica partiu para os segundos quarenta e cinco minutos com o pé no acelerador, tentando garantir assim os três pontos e aproveitar o empate entre os eternos rivais Sporting e Porto. No Beira-mar, por seu lado, podia-se especular sobre alguma confusão na hora de partir com a bola controlada, derivado a uma dúvida sobre a melhor opção técnico-táctica a tomar: tentar salvaguardar a sua zona recuada e apostar em contra-ataques solitários, ou jogar o jogo pelo jogo, buscando o tento que permitiria o empate.

O maior pendor ofensivo do Benfica manifestou-se logo no dealbar da segunda parte: sempre pela direita, Ruben Amorim serviu Oscar Cardozo de forma irrepreensível, apenas para o internacional paraguaio falhar o contacto com a bola de uma forma displicente, para desespero do colega. Em resposta, quaisquer questões sobre a postura da equipa da casa foram desfeitas quando Ronny teve uma chance soberana para igualar a partida: felizmente, optou ao invés por um cabeceamento fraco quando estava isolado perante Roberto, que agradeceu ao colega de profissão tê-lo poupado a maiores calafrios.

O jogo prosseguiu animado, até que aos 14 minutos da etapa suplementar Cardozo, sedento de regressar à senda dos golos, deu expressão ao maior poderio atacante dos encarnados: desferiu um excelente remate colocado à entrada da área, após recuperação de bola de um Nico Gaitan mais esforçado nas tarefas defensivas que habitualmente. O ponta de lança dava assim uma machadada na tentativa de reação da equipa da casa, decidindo o destino do jogo numa altura em que se poderiam começar a adivinhar algumas dificuldades na transição ofensiva da equipa lisboeta.

Nomeadamente, até este segundo golo sentia-se nos adeptos benfiquistas nas bancadas alguma apreensão derivado a uma possível contrariedade em termos de resultado (e consequente não-aproveitamento para reduzir a desvantagem pontual em relação ao Futebol Clube do Porto): o Beira-mar poderia virar o jogo em seu favor nalgum lance fortuito, derivado ao seu crescente fulgor atacante e à indecisão sobre o posicionamento de Fábio Coentrão e sua compensação efectuada por David Luiz, ainda lembrado do jogo contra o actual líder da tabela.

Mas o momento de inspiração do paraguaio revelou-se providencial para acalmar a equipa, permitindo-lhe assentar jogo durante o resto do desafio e servindo como um verdadeiro banho de água fria para os jogadores adversários. De resto, Nico Gaitan revelou-se como uma unidade capaz de alicerçar as subidas repentistas de Coentrão, conferindo coesão no corredor esquerdo e aliviando David Luiz desta tarefa — para a qual o internacional canarinho não se sente particularmente vocacionado.

Assim, foi sem surpresa que, decorridos apenas sete minutos, o argentino Saviola culminava com um oportuno terceiro golo após solicitação de Oscar Cardozo. De destacar o grande trabalho do goleador da selecção sul-americana, com uma espectacular iniciativa individual dentro da grande área, plena de entendimento com o pequeno atacante alvi-celeste. Efectivamente, Cardozo surpreendeu o veterano Hugo ao rodar com a bola colada ao pé esquerdo, o seu preferido, rasgando pelo central aveirense e permitindo-lhe servir com facilidade o colega.

Com o jogo decidido, o Benfica optou por baixar o ritmo atacante, lançando no terreno unidades menos rodadas e apostando na circulação de bola, perante um Beira-mar já algo desmoralizado pelo resultado excessivo. Mais uma vez, esta ausência de intencionalidade encarnada em termos de área contrária permitiu à equipa do Beira-mar obter um golo tardio: embora fruto de uma fragilidade defensiva estranha num sector com grande disciplina táctica na época passada, este tento aligeirava a derrota sofrida pela equipa anfitriã, cujos números não espelhavam a exibição relativamente equilibrada de ambas as equipas.

De destacar a capacidade de timing e esclarecimento do central Hugo, que mostrou aos colegas mais inexperientes como é possível apresentar elevados índices de eficácia já com 34 anos: embora a sua disponibilidade física não seja comparável a quando militava na equipa principal da Sampdória, um posicionamento correcto e boa leitura das movimentações contrárias recordou os tempos na formação cisalpina: só foi batido aquando do segundo golo, em que a finta inesperada do Tacuara não lhe permitiu encontrar os rins para cortar a linha de passe para Saviola.

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Melhor jogador:

Cardozo (5): Grande regresso, com um penálti pleno de cinismo, um golo de levantar o estádio e uma assistência após grande iniciativa pessoal. Alan Kardec deve estar preocupado pelo fulgurante regresso do colega à posição que tão bem conhece.

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Notas:

Roberto (4): Boa exibição, seguro a sair dos postes e a coordenar o posicionamento dos colegas, rápido a soltar para o ataque.

Luisão (4): Intransponível na defesa, ameaçador nas bolas altas atacantes, serviu para arrastar sempre jogadores adversários na marcação de livres e pontapés de canto.

Fábio Coentrão (4): Afoitou-se no ataque sempre que pode, sem descurar a defesa. Disponível e sempre ao seu estilo, deu-se bem com Nico Gaitan e teve pormenores de entendimento com partida rápida para a área contrária, para desespero dos defesas adversários. Amarelo injusto.

David Luiz (4): Seguro e menos rendilhado que normalmente, apostou na jogada fácil sem descurar a qualidade de passe e a saída com a bola controlada para o ataque.

Ruben Amorim (5): Grande exibição do polivalente internacional luso, agarrando a posição e combinando com Maxi Pereira para permitir situações de superioridade numérica no corredor direito e solidez defensiva perante os extremos do Beira-mar.

Javi Garcia (5): Sempre eficaz na recuperação de bolas, a ausência de Aimar obrigou-o a correr mais para entregar a bola jogável, objectivo que cumpriu sempre que solicitado.

Carlos Martins (4): Menos fulgurante que normalmente, apostou mesmo assim nas penetrações pelo corredor central, quer através de passes de morte, quer partindo com a bola colada ao pé.

Nico Gaitan (4): Foi menos notado no ataque, mas apenas porque se preocupou em fechar o corredor canhoto, permitindo a Fabio Coentrão aventurar-se em velocidade. Sólido e pouco egoísta, demonstrou motivos de preocupação para o colega César Peixoto.

Maxi Pereira (4): Rápido e sem complicar, parece estar cada vez mais de regresso à forma que evidenciou no ano passado e durante o Campeonato do Mundo. Com ele, o Benfica arrisca-se sempre a construir lances de desiquilíbrio pela ala direita.

Saviola (4): Mais móvel e repentista que nos últimos jogos, preferiu jogar para a equipa e espreitar as oportunidades construidas pelos colegas. Marcou um golo graças à sua boa leitura de jogo, mostrando um crescente entendimento com "Tacuara" Cardozo e dando aos sócios e adeptos do Glorioso sintomas em termos de uma renovação desta dupla concretizadora.

Kardec (3): Entrou para permitir a Cardozo recuperar do esforço físico, disputando os lances com a sua habitual entrega física e tentando construir entendimentos com os colegas.

Salvio (3): Ingressou no terreno de jogo para ganhar minutos e adquirir maior entrosamento com a equipa. Não falhou.

Jara (3): Substituiu Saviola e tentou imprimir a mesma dinâmica que o colega, embora a equipa já estivesse em regime de contenção de esforços.

Moreira (2): Boa postura no banco, sempre atento e a apoiar a equipa.

César Peixoto (2): Incansável no visionamento do jogo, como é seu estilo.

Sidnei (2): Muito forte na luta contra o frio, nunca deu tréguas ao fecho do kispo que revelava falta de esclarecimento na hora da concretização.

Nuno Gomes (2): Um verdadeiro símbolo no banco do Benfica, a sua mobilidade e instinto de posicionamento permitiu-lhe trocar de cadeira ao intervalo.

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Árbitro

Bruno Paixão (1): Infeliz no posicionamento e tardio a assinalar um livre indirecto, apenas o notável desportivismo dos atletas e colegas de profissão o impediu de escrever mais um capítulo negro na história do desporto nacional.

Prognósticos só no fim

Inauguro aqui a minha rubrica de apreciação das partidas encetadas pelo Glorioso nas competições nacionais e europeias. Tentarei ser relativamente imparcial, mas com algumas ressalvas naturais em termos do meu benfiquismo, nomeadamente:

- O Benfica nunca joga mal; na pior das hipóteses, abdica de posicionamentos mais ofensivos, demonstra alguma permeabilidade defensiva ou revela unidades em claro sub-rendimento físico ou com baixos índices técnico-táticos.

- O treinador do Benfica nunca se engana: no máximo, a sua leitura do jogo não é interpretada da maneira mais correcta pelos executantes do desporto-rei, as condições do terreno não permitem à equipa pôr em prática o plano delineado ou a excessiva rispidez defensiva do adversário impede os atletas de colocar em campo todo o seu virtuosismo atacante.

- As outras equipas nunca são melhores que o Benfica: eventualmente, podem atravessar um momento de forma mais favorável à prática da modalidade, beneficiarem do factor casa ou lograrem travar o ímpeto atacante da equipa das águias.

- Os jogadores nunca se atrapalham com a bola: por vezes revelam algum nervosismo natural nas grandes partidas, estão ainda em busca da melhor forma ou desentendem-se com os colegas no capítulo da execução técnica, revelando alguma falta de entrosamento neste início de época (que é sempre que for preciso).

- Os remates do Glorioso nunca falham: os executantes podem ter uma maior dificuldade no momento de se enquadrarem com a baliza, a bola ganhar efeitos imprevisíveis ao bater no terreno de jogo, os atletas hesitarem no capítulo da concretização ou o guarda-redes adversário assumir-se claramente como protagonista do jogo.

- O árbitro nunca é competente: a maior parte das vezes patenteia uma postura condescendente com as equipas contrárias, não castigando algumas faltas mais viris como manda a lei. Em bastantes jogos revelará claramente uma má leitura das intervenções dos atletas das equipas contrárias, não deixando jogar e falhando na punição exemplar dos lances indicadores de desrespeito pelos seus colegas de profissão. Por vezes demonstrará claro favoritismo pelos oponentes, nomeadamente dando ao resultado contornos não expressos pela exibição das equipas no terreno de jogo.

Além dos pontos acima, efectivamente vale a pena referir que não irei constatar os nomes da maioria dos jogadores adversários: estes já são referidos em certos meios de comunicação não afectos à família benfiquista, nomeadamente os jornais desportivos de maior tiragem.

De salientar a todos os bloguistas aí em casa que esta minha atitude a nível de transmissão da mensagem que quero fazer chegar aos leitores não expressa inverdades, mas tão somente uma forma muito particular de viver o jogo.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Ser Benfiquista: Nando

Ao contrário do veiculado na imprensa por alguns dos meus colegas de profissão em termos de Farmácia Franco, eu nasci do Benfica. O meu pai orientou os trabalhos no estágio de pré-temporada, nomeadamente ao tocar o hino do Glorioso em cassete junto à barriga da minha mãe, ou a obrigá-la a beber minis e comer sande de coirato nas roullotes da antiga Catedral até às trinta semanas de gravidez.

Foi num domingo de Maio de 1976 que basculei do útero para as mãos da parteira: uma jogada de entendimento entre o meu pai e padrinho (que tinha carro e não podia beber) garantiu que após um compasso de espera estava inscrito no SLB com o número de sócio 43937. Quando levei a palmada da praxe, em vez de chorar rebolei nas mãos da profissional de apoio ao nascimento com uma cara de dor, piscando o olho à minha mãe enquanto ganhava tempo para que ela pudesse reposicionar-se em termos de fechar as pernas.

Assim, foi numa tarde ideal para a prática do desporto-rei que a massa adepta do clube encarnado passou a contar com mais um elemento nas suas fileiras — resultado das penetrações paternas pelo corredor central da minha mãe e consequente engrossar do fluxo atacante na zona de rigor. O nome já tinha sido prognosticado pelo meu pai, em homenagem ao pequeno avançado então promovido à equipa sénior do clube de Luz, nomeadamente o Fernando Chalana.

Daí em diante, a minha vida apresentou elevados índices de benfiquismo, e as conquistas e faltas do SLB avançaram em bloco com as minhas:

- Quando o Jordão se transferiu do Benfica para o Sporting, depois de um ano no Saragoça, em 1977, ainda eu era um elemento das camadas sub-3 na Creche "Menino Rabinos", aos Sapadores. As escolhas técnico-táticas, nomeadamente um time-sharing que correu mal com o meu tio na França, levou a minha família a uma excursão pascal à Palestina. Foi assim que apanhei uma infecção de salmonelas no rio Jordão, ao mesmo tempo que o ponta de lança luso-africano assinava contrato com o João Rocha.

- Em 1983, o Glorioso perdeu (injustamente, claro) a Taça UEFA contra o Anderlecht. Dois dias antes, o meu tio falhava uma jogada de triangulação com um andaime em Bruxelas (onde pagavam melhor que na França), terminando o encontro com um saldo claramente negativo: Andaime: 4 costelas, Tio: 0. Não teve direito a segunda mão, mas na queda partiu as duas.

- Mesmo nas pequenas coisas se revelou o meu benfiquismo: dois anos depois, o Estádio da Luz fechava o terceiro anel enquanto eu ajudava o meu pai a fechar a marquise da nossa nova casa em Mem Martins.

Também só visionei o Dartacão porque equipava à Benfica, e anos mais tarde recusei-me a comparecer na sala de estar durante a emissão televisiva das tartarugas ninja, que viviam no esgoto de Alvalade e eram orientadas por um rato que parecia o Marinho Peres (mas sem o mau aspecto).

Infelizmente, também não torcia pelo Shredder, que conclui ser sócio ou simpatizante do Futebol Clube do Porto: era mais velho, acompanhado de capangas com pouca inteligência de jogo e utilizador de métodos que não têm lugar no desporto-rei.

- Em 1993, tinha 17 aninhos quando Paulo Sousa e Pacheco abandonaram o Glorioso, aliciados por Sousa Cintra. Para dar a volta ao resultado em termos de tristeza, aliciei a minha colega (do curso profissional de metalo-mecânica) Paula para irmos para a serra de Sintra, mas a penetração não se concretizou porque ela cheirava a peixe seco.

Dado o adiantado da hora, e em jeito de resumo, avanço que a minha vida revela muito o meu posicionamento em linha com o SLB, e vice-versa. Mas o pouco tempo de descontos concedido só me permite lançar em jogo mais um exemplo, numa troca por troca com uma das unidades deste texto em claro sub-rendimento:

- Fiz a tropa em 1994-1995, ano em que Artur Jorge transformou a filosofia de jogo do Benfica, apostando nomeadamente em jogar sem bola — já que o esférico não estava entrosado com os jogadores que então despontavam no clube das águias.

Por coincidência, fui então expulso no decorrer da primeira parte do curso de fuzileiro: durante uma simulação de assalto urbano, sem intenção tropecei num paredão e disparei um tiro do meio da rua que rasgou pelo escudo defensivo do recruta mais próximo. O seu nome era Tavares, e revelou-se um perna de pau.

Embora o encontro não fosse nada amigável, não fiquei desiludido com o resultado: estava em inferioridade física e a necessitar de ser assistido fora de campo por Rennies e canja de galinha. A explicação para a falta de pontaria na hora de alvejar o adversário? Um alívio de ressaca mal curada, fruto de comportamentos menos correctos no final de um comício da secção de Marvila do Partido Comunista…

Benfica sempre!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Ser Benfiquista: Gandaia

Eu não nasci benfiquista, até porque a minha mãe era adepta do Porto e o meu pai do Sporting.

Com os meus 6 anos eu era do clube da minha mãe, apenas porque era o clube da minha mãe.
Depois passei a ser do clube do meu pai, pela mesma razão que fui do clube da minha mãe.

Aos domingos à tarde, ia com os meus pais a Belém passear e "tentar" jogar à bola com o meu pai.
Havia por lá umas bancas a vender artigos desportivos de clubes. Eu pedi ao meu pai o equipamento do Sporting, algo renitente em gastar dinheiro no equipamento resolveu comprar-me os calções do Sporting.

Em Outubro de 1987 o meu padrinho, que era um grande benfiquista e já me falava muito do Benfica, ofereceu-me de prenda de anos o equipamento do Benfica. Lembro-me de ficar deslumbrado com a cor do equipamento.

O meu 1º jogo no Estádio da Luz foi contra o Honved e ganhámos 7-0. Após esse jogo o meu amor pelo Benfica continuou a crescer.
Mas foi em 1990 que o meu amor pelo Benfica ficou oficializado. O Benfica jogou a final da Taça dos Campeões Europeus contra o Milan. Perdemos por 1-0 com um golo de Rijkaard. Passei o jogo de joelhos em frente à televisão agarrado a uma toalha vermelha (não tinha cachecol) e no fim do jogo desatei a chorar. Foi o começo de uma relação indestrutível.
Desde esse dia a minha relação com o Benfica, não se explica, sente-se.


Muitos nasceram Benfiquistas, muitos escolheram o Benfica. O importante é ser do Benfica.

PS - Os meus pais, hoje em dia, são Benfiquistas.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Ser Benfiquista: Filipe

Como posso eu explicar o inexplicável? Não posso! Posso apenas dar uma ideia do que sinto mas só uma ideia e quem não sentir algo parecido não vai nunca compreender.

Sou do Benfica porque não poderia ser de mais nada. Eu sou o Benfica, pelo menos é isso que os meus olhos dizem ao meu cérebro. A ponta dos dedos, os poros da pele e todos os outros pontos sensoriais do meu corpo dizem o mesmo, Benfica, tu és Benfica. Então é mesmo isso que eu sou, Benfica, das unhas dos pés às pontas do cabelo passando pelo o resto do corpo numa espécie de electricidade viral.
Se o Benfica está a jogar posso até não ver, nem sempre consigo, há casamentos e baptizados para ir, mas não consigo deixar de imaginar a equipa que vai entrar, o resultado ao intervalo, a fantástica exibição, a vitória. Ganhamos sempre, é só assim que eu consigo pensar, sou limitado a este padrão! Por fim, nem sempre ganhamos mas é sempre necessário saber todas as características, todas as condicionantes daquele jogo. É preciso vê-lo outra vez. Haverá, de certeza, alguma justificação.
Os adversários do Benfica! Quem são? Não existem. O Benfica não tem adversários. Jogamos contra todos e todos nos encaram da mesma forma, todos querem ser iguais a nós! Nós somos os maiores, nós somos os melhores. Não há como o Benfica, não há como nós.
Por vezes perguntam-me se vou ao estádio mas o estádio é a minha casa, não compreendem isto? Como poderia deixar de ir? Sinto-me bem quando estou por lá. Não concebo uma semana sem saber quais os jogos, de que modalidades e a que horas se jogam na Luz. O site do Benfica é naturalmente a homepage, tenho que ouvir todas as notícias, tenho que saber todos os resultados.
Até durante o dia, no trabalho, o assunto resvala para a paixão e os benfiquistas juntam-se no recém criado núcleo benfiquista dos trabalhadores da empresa do qual sou membro fundador e agitador compulsivo.

Ser do Benfica é isto? Não, isto sou eu, isto e mais. Sempre me conheci assim e não vejo razão para mudar.

Ser Benfiquista: Sofia

O Benfica perdeu ontem. Mas, parafraseando um querido amigo também farmacêutico, o Benfica é muito mais do que um jogo. Eu sou do Benfica hoje, e serei amanhã tal como era ontem. Mas falemos do antes de antes de antes (...) de ontem.

Não sei porque sou Benfica. Mas a sério, não sei mesmo. Há farmacêuticos que dizem que ser do Benfica nunca pode ser reduzido a uma escolha. Há outros que fizeram essa escolha conscientemente. Eu não sei. E se não sei é porque devo ter batido com a cabeça quando era pequenina e não tenho memórias. A minha primeira memória só aparece aos 5 anos, e até aos 8 apenas tenho mais 3 ou 4 memórias, e mesmo assim muito fugazes. Ora, como me dizem que eu já era Benfiquista de ginjeira a essas alturas, algo terá acontecido lá pelo meio da névoa cinzenta que é a minha infância e que me levou até ao Benfica. Por acaso até gostava de saber como é que aconteceu.

Mas posso dizer porque é que sou do Benfica ontem, hoje e amanhã. Porque é paixão, porque é sofrer, porque é chorar, porque é sair do estádio, do pavilhão, da tasca com Sporttv com a garganta inflamada, porque se sente cá dentro, porque é amor. E agora vou ali para dentro folhear a minha velhinha Bola em formato A3 do dia 14 de Maio de 1994. Sublime, empolgante e aterrador.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Ser Benfiquista: David

Pedir a um Benfiquista que explique o seu Benfiquismo é o mesmo que pedir ao Papa que explique o seu catolicismo. Ou seja, dá pano para mangas. Mas vou tentar simplificar.

Não foi algo que escolhi porque o Benfica nunca poderá ser reduzido a uma mera escolha. Nasceu comigo no princípio da década de 80, já depois das gloriosas conquistas da década de 60 mas ainda a tempo de vivenciar muitas outras. Os golos do Isaías em Highbury contra o Arsenal (1991), aquela noite fria em que batemos o Dínamo Kiev por 5-0 na Luz (1992), os 3-6 na noite mágica do JVP, o épico jogo de Leverkussen (4-4). Nas modalidades recordo as noites históricas do Carlos Lisboa no basquete, as exibições do outro mundo do Panchito no hóquei em patins, and so on, so on.

Ficaria aqui eternamente a recordar mas haverá muito tempo para, neste humilde estabelecimento, lembrar o passado, discutir o presente e perspectivar o futuro do nosso eterno Glorioso.

Ser Benfiquista é celebrar as vitórias, sofrer com as derrotas mas, acima de tudo, é a partilha de um sentimento mais forte que nós. No fundo é algo que não se explica mas que se sente!

Ser Benfiquista: Paulo Jorge

A maioria das pessoas diz que não sabe porque é afecta a um clube e que sempre foi desse clube; eu sei porque sou Benfiquista: eu escolhi ser Benfiquista. Ainda me lembro quando ligava pouco ao assunto e dizia que era Benfiquista porque os meus amigos eram todos, mas o meu pai era sportinguista, então passei a dizer que era de 5 ou 6 clubes: o SL Benfica, o FC Porto, o Sporting CP, o CF "os Belenenses", o Boavista FC e não tenho a certeza se também do SC Braga. Mas na verdade não era afecto a nenhum, não tinha razão suficiente para estar especialmente ligado a qualquer deles; eu nem ligava assim tanto ao futebol!

Que razões me levam hoje a gostar de um clube? O nome, o símbolo, o equipamento, a história e a equipa. Quanto ao SL Benfica não me lembro de ter sido tão abrangente, comecei a gostar pelas equipas que tinha nas diversas modalidades. Creio até que o futebol nem foi o primeiro desporto pelo qual me apaixonei, terá sido o hóquei em patins. Mas no SL Benfica as primeiras equipas a cativar-me foram a de basquetebol, que era a melhor equipa que o basquetebol português alguma vez teve, e a de futebol, com o Paulo Futre, o Paulo Sousa e o João Pinto, fiquei marcado pelo jogo em que o Paulo Sousa foi à baliza no Bessa e pela final da Taça desse ano. E escolhi apoiar este clube.

Sinto que sou - não apenas, mas muito - um Benfiquista de Pavilhão. Assisto aos jogos de todas as modalidades do SL Benfica, até já fui assistir ao ténis de mesa e ao futsal feminino. Não consigo imaginar-me de um clube que não me proporcionasse a oportunidade de assistir a andebol, basquetebol, futsal, hóquei em patins, voleibol e claro futebol, e o SL Benfica é o único que o pode fazer, acrescentando ainda o râguebi que aprecio muito. Felizmente entre 1992 e 1993 o SL Benfica tinha grandes equipas em três das modalidades com mais visibilidade, graças a isso sou Benfiquista. Há quem diga até que sou doente pelo SL Benfica, mesmo que doença seja a designação correcta não me quero livrar dela e não fujo ao paradoxo de dizer que é uma doença boa.

Há uns tempos um amigo disse sobre o meu Benfiquismo: "Este é daqueles que até chora quando o Benfica perde", no entanto, isso não passa de um mito. Aconteceu apenas duas vezes:
- a primeira, foi quando o SL Benfica perdeu a meia-final da Taça das Taças contra o Parma. Lembro-me de ir a caminhar cabisbaixo, incrédulo e ouvir a madrinha do meu pai dizer "Coitadinho!", ao que o meu pai (com alguma satisfação perversa) respondeu "Coitadinho porquê? Ainda tem muito que sofrer", estava muito correcto o meu pai naquele momento, até porque vi imensos jogos do SL Benfica ao seu lado, o que aprofundou a experiência do sofrimento;
- a segunda e talvez última, aconteceu quando o SL Benfica perdeu o campeonato de basquetebol para o FC Porto na última época do Carlos Lisboa, não podia ter acontecido! Era um desfecho anunciado, mas eu não estava preparado para o aceitar.
Sou mais pessoa para me emocionar com as vitórias do que com as derrotas. Depois da vitória na UEFA Futsal Cup estive durante semanas a ver vídeos e a ler entrevistas sobre a ocasião, fiquei sempre emocionado, ainda hoje quando penso nessa vitória fico com os olhos lacrimejantes [...pronto! já está!]. As derrotas que me fizeram chorar hoje são apenas lembranças muito vãs, já têm algo de lendário na minha memória, as vitórias hão-de estar sempre presentes.

Esta noite a maior parte dos meus amigos há-de ver um jogo qualquer da UEFA Champions League, eu preparo-me para sair, vou ver jogar o basquetebol do SL Benfica. Para mim é mais importante. É o SL Benfica.

"Parto rumo à maravilha
Rumo à dor que houver p'ra vir"

Ser Benfiquista: Tiago

Não sei como nem quando me tornei Benfiquista, sempre o fui, nunca pensei realmente nisso, como é possível ser de outra coisa qualquer?

Lembro-me dos mais velhos me chamarem Filipovic enquanto eu dava os primeiros passos na arte dos matraquilhos, ali para os lados de Montemor-o-Velho. Lembro-me de ler a gigante “A Bola” dentro dos braços do meu Pai, e de ficar chateado por ele perder demasiado tempo na página da 2ª divisão, eu queria era saber do Benfica.

Estava na Luz quando o Diamantino se lesionou contra o Vitória de Guimarães e não pode jogar contra o PSV na final da Taça dos Campeões, era óbvio que ele nunca iria falhar uma grande penalidade, os guarda-redes adversários, e até os próprios colegas, nunca conseguiam perceber para onde é que ele estava a olhar. Chorei com o Veloso quando a final terminou, nessa noite a minha Mãe nem teve de me mandar para a cama.

Quando estive em Angola as noticias só chegavam mensalmente, esse dia era o auge, ver o Gilberto carregado com um monte de jornais ao chegar a casa… punha o “Expresso” de lado e devorava a "Bíblia", quem quer saber do resto do mundo quando o Benfica chega?

Foi em África que vi a segunda mão da meia-final contra o Marselha em diferido, não sem antes, e em tempo real, ter sintonizado o rádio às escondidas para saber qual era o resultado ao intervalo. Estava cheio de medo do Chris Waddle.

Não me lembro de muitas mais coisas desta altura e acho que isso diz tudo. Deixemos então a nostalgia de lado, que é onde ela deve estar, e falemos do presente desta nação, que é o Benfica. Até breve.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Abertura da Farmácia

Seja bem vindo, caro freguês.

Este espaço serve para que estes criados de V. Exa. libertem os seus humores benfiquistas aos quatro ventos das interredes. É que nesta farmácia só há uma doença: chama-se benfiquismo primário e não tem cura. Mas umas purgazinhas textuais de vez em quando sempre aliviam a glote cansada de apoiar o Glorioso — e ajudam a reequilibrar o fígado porventura afectado por um qualquer jogo mais funesto.

Como introdução a cada um dos boticários de serviço, segue-se uma prescrição de artigos de toma rápida, em que cada um fala do seu benfiquismo. Posologia: ler. Contra-indicações: pode provocar palpitações de orgulho a cardíacos, e náuseas aos demais.